...e o que você ver ao sair em direção ao deserto?
A não ser você mesmo em forma de areia que se agita com a
força do vento.
...seus buracos.
Medos.
Anseios.
No deserto é frio a noite.
...quente ao dia.
Lá conheces as tuas próprias tentações: as que sofre e as
que são – que tu mesmo és.
No deserto estão as serpentes – tu te transformas em
serpente também – prudência.
...é possível ver as estrelas – como elas são, não como
aparentam ser.
...e o que você ver ao sair em direção ao deserto?
A estrada encoberta pelo nada.
O assobio da solidão.
Há diálogos entre os pés e o chão – as palavras são os
passos.
Há delírios...
As curvas nuas das dunas – a passageira e misteriosa
percepção de que você mesmo está a um passo de você mesmo.
...num deserto é possível ouvir uma música (...)
A vida é esse olhar...
...o arranjo muda, mas a letra é a mesma.
Mas, o que você ver ao sair em direção ao deserto?