terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Há como guarda o gelo embaixo dos pés?






...e a pergunta nova é melhor do que a antiga resposta.
Há perguntas que são verdadeiros golpes.
Há respostas tão afiadas quanto a faca de dois gumes.

Não se condena o Sol, por ele queimar a pele.
...a pele é que é frágil.

Não se pode condenar o homem pelo seu cansaço...
...pó, brisa suave - luz que logo se apaga.

Há um nome que se chama quando todos os outros nomes não nos ouvem.
...nome que se pronuncia no silencio do convite que brota do olhar que vemos no espelho.

Há um som que impede a voz.
...vês! Há sempre um inimigo atroz - a voz, dentro de ti que imita a voz fora de ti.

Aquela companhia que ti assusta, aparecendo de repente?
...tua própria sombra.
Teu próprio cheiro.

Olhas com desconfiança o outro que passa por ti...
É de ti que desconfias! O outro apenas pode estar, talvez, quem sabe? Ti denunciando.

Guardarias o fogo debaixo de tuas roupa ou o gelo embaixo dos teus pés?
Melhor é caminhares livre com caneta ao vento e sonhos de papel.

...e a pergunta nova é melhor do que a antiga resposta.

Quem brinca de gerar palavras novas cria um mundo novo?
Quem pensa nesse mundo corre o risco de ficar um pouco louco?
Quem desce, devagar ao fundo, pode subir de novo?
...e se fores ao deserto, quem lhe garantir um poço?

Há respostas tão afiadas quanto uma espada de dois gumes.