domingo, 18 de dezembro de 2016

Em Direção ao Deserto







...e o que você ver ao sair em direção ao deserto?

A não ser você mesmo em forma de areia que se agita com a força do vento.

...seus buracos.

Medos.

Anseios.

No deserto é frio a noite.

...quente ao dia.

Lá conheces as tuas próprias tentações: as que sofre e as que são – que tu mesmo és.

No deserto estão as serpentes – tu te transformas em serpente também – prudência.

...é possível ver as estrelas – como elas são, não como aparentam ser.

...e o que você ver ao sair em direção ao deserto?

A estrada encoberta pelo nada.

O assobio da solidão.

Há diálogos entre os pés e o chão – as palavras são os passos.

Há delírios...

As curvas nuas das dunas – a passageira e misteriosa percepção de que você mesmo está a um passo de você mesmo.

...num deserto é possível ouvir uma música (...)

A vida é esse olhar...

...o arranjo muda, mas a letra é a mesma.

Mas, o que você ver ao sair em direção ao deserto?