quarta-feira, 22 de julho de 2020

Útero





De tudo que eu escrevi, leve em consideração que eu ainda nem nasci.

Não há o que passa, nem quem passa - há a passagem.
Fecha-se um ciclo (...)
Os ponteiros do relógio existencial, nunca param.

As palavras ganharam, para mim, outros tons e sons. As ondas sonoras possuem um poder de penetração mais forte ou mais profundo do que a luz. Provavelmente porque, em relação a luz, podemos fechar os olhos quando quisermos, afim de que a luz não penetre, mas os ouvidos não possuem pálpebras

O conhecimento vem através do Som.
A Visão se abre diante dos tons.

Ganhei novos tons e sons.

A porta estava aberta, eu passei pela via da passagem - anos que não possuo mais.
Posso, de forma duvidosamente certa, de uma certeza tão duvidosa, dizer que:

Não quero ser eu mesmo.
Eu mesmo eu já sou.
O "eu" mesmo sabe que se ele se entregar ao "eu mesmo" é porque o "eu mesmo" venceu a vontade de ser transformado, de viver transformações - metamorfosear-se.
Quando o "eu mesmo" diz que quer ser "eu mesmo" é porque o "eu mesmo" encerrou o processo de seguir em direção à mudanças e seguiu o "deixa como está e o que o resto se exploda".

Não, não quero ser "eu mesmo". Quero é que em cada passo, cada traço - cada quadro - eu seja, mas seja de "ser". De ir sendo, de ir se despindo, se desfazendo - quero deixar a pele do meu "eu" cair pelo caminho e, a cada passo, metamorfosear-se.
Meu "eu mesmo" está a caminho, em busca do meu "si mesmo".
Então, porque devo parar e ficar no "eu mesmo"?
Há muita coisa morta ao meu redor - há coisas mortas em mim - estou morrendo aos poucos - não posso ser "eu mesmo".

Descobri a Vida na vida: já não vivo de ilusão.
Não quero mandar na minha vida pois encontrei a Vida que corrigi os passos da vida.
Mudei de rota: tô saindo da vida e migrando para a Vida e isto é definitivo: não há volta.
Ele quebrou todas as pontes atras de mim - passos para trás darão, certamente, em um grande abismo.
Então, na minha vida não mando eu.

Tenho que migrar das verdades que tenho para as verdades que sou.
Ou isso acontece ou serei um monte de "coisa" que nunca deveria ser ou ter sido.
Ter a verdade, falar a verdade e apontar a verdade, após descobri-la, é relativamente simples: ser verdadeiro é o desafio maior. O fingido não é real! O fingido é farsante. Dizer "coisas" verdadeiras é a obrigação de quem se compromete a ser cidadão, outra coisa é ser verdadeiro. O "verdadeiro" não se compromete em ser cidadão, pois o cidadão diz coisas verdadeiras por vários motivos - o verdadeiro diz coisas verdadeiras por um motivo apenas: ser verdadeiro.
Quero migrar para essas verdades.

Entendi a grande teia do "Mundo" (Aion).
As tramas (teias)  conspiratórias são feitas a noite (sonolência), quando a atenção está mais relaxada e a razão está submissa ao descanso.
Se eu for pesado, não subirei acima das teias (...)
Terei que ser leve e potencializar o voo. 

Cativei o silêncio.
Silenciar é puxar o diálogo para dentro.

Sou alienado - vivo em outro mundo.
Sou realista - sei onde meus pés estão.

É paradoxal.
Ser Sal é Missão.

Quero muito ser um canto de Paz.
Não quero que o "outro" encontre em mim guerras.
Não sou de guerras.
A Paz é um trabalho feito artesanalmente - porque tirá-lo do "outro"?

Quero, ao subir a Montanha, que meu olhar seja transfigurado.
Quero ver - ainda sou cego.
Não alcancei a santidade - estou sendo santificado por AquEle que É Santo.

Quero amar o Amor para amar de verdade.
Meu amor é egoísta.
Somente amando o Amor que ama os Homens poderei amar de verdade.
Isto é meta constante!

Confesso: sou fraco à beleza.
Me submeto ao belo.
Encanto-me diante do que é belo.
Confesso: irrito-me (...)
Confesso: choro (...)
Confesso: peco, de cometer pecados - desvios...
Confesso: estou em construção.
Confesso: errei muito e fiz, em minha ignorância, outros errarem.
Confesso: Maltratei e fui maltratado.

Por tudo isso, me pró-pus, à um caminho de meditação.
Meditar é murmurar como os passarinhos (...)
É deixar o coração cantar.

Eu vejo o topo das árvores sacudidas pelo vento.
Ruach...

Eu já vi a terra prometida.
Confesso - caminho para lá.

De tudo que eu escrevi, leve em consideração que eu ainda nem nasci.